A EMANCIPAÇÃO DA MULHER EM JOSÉ DE ALENCAR
Francinilda Sousa *
A mulher vem conquistando a cada dia uma posição mais relevante na sociedade, fruto de sua luta incessante pela conquista de espaços, da qual decorre a autonomia e posição significativa no contexto histórico social.
A mulher alencariana é autônoma, inteligente, bela e independente. Com isso, em Senhora, Alencar anula a condição servil imposta à mulher pela antiga sociedade patriarcalista, evidenciando um conflito entre o sistema patriarcal da época e os desejos de mudança e maior liberdade de expressão da mulher.
Aurélia representa uma figura de destaque em relação às outras mulheres de sua época. Vive além de seu tempo, os seus valores e princípios contradizem com a realidade, onde prevaleciam os ditames da sociedade machista em detrimento do reconhecimento da condição feminina.
Alencar constrói na ficção romântica uma mulher realizada, contrapondo a mulher oprimida da época, em que cujo perfil pode ser assim traçado: frágil, submissa, reprodutora e serva, o oposto de Aurélia. Como afirma Machado: “Já não se pode generalizar a classificação de serva a toda mulher da sociedade do século XX, onde ela faz conquistas dignas de admiração, principalmente por não possuir a mesma tradição de sucessos e poderios, na qual está apoiado o homem”.
O advento das ideologias românticas suscitou modificações nos paradigmas sociais do século XIX, principalmente em relação à condição feminina. A mulher passou a desempenhar novos papéis na sociedade, e a ser retratada a partir de suas peculiaridades: inteligência, autonomia, e espírito crítico.
A personagem feminina criada por Alencar é produto não da submissão ou opressão, mas da liberdade de escolha, que a transpôs da sua condição de ‘’doméstica’’e ‘’procriadora’’, para o patamar de ser social devidamente reconhecido. A mulher evoluiu para sua época e com isso não mais se encaixa no sistema moldado pela moralidade social do contexto histórico-geográfico. Conforme Novaes, (1997, p.120)
Era, todavia, a cargo delas que ficava o asseio e a limpeza da casa, a preparação dos alimentos, o comando das escravas e dos índios domésticos, além de grande parte da indústria caseira. Afinal, toda a sua educação era voltada para o casamento, para as atividades que deveriam desempenhar enquanto mães e esposas.
Em Senhora, Alencar põe em relevo a supremacia feminina. Aurélia é a representação da mulher que tem consciência se seu valor confia no potencial feminino, mesmo que intensificado por outro artifício do capitalismo. Ela faz ruir toda uma carga de restrições imposta às mulheres do seu tempo. Segundo Alencar,( 1997, p.82):
A natureza dotara Aurélia com a inteligência viva e brilhante da mulher de talento, que não se atinge ao vigoroso raciocínio do homem, tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos, por mais diversos que o sejam. O que o irmão não conseguira em meses de prática, foi para ela estudo de uma semana.
AURÉLIA, ÍDOLO DOS NOIVOS
No romance Senhora, Aurélia realiza-se sentimentalmente utilizando como recurso o poder do capital, por uma questão de amor e vingança. Apesar de sua beleza e riqueza,Aurélia tinha uma única ambição:casar-se com o homem que amara para fazê-lo pagar a rejeição que sofrera no passado,quando não dispunha de dinheiro para comprar o amor de Fernando.
A jovem trata o sentimento de Fernando como algo que pudesse ser apreçado, cuja aquisição seria viável através da moeda corrente. Então, ela compra Fernando como se estivesse comercializando uma mercadoria qualquer, para que simplesmente represente o papel de marido que uma mulher na sua posição social deve ter.Conforme Alencar,(1997,p.111): “ É tempo de concluir o mercado. Dos cem contos de réis,em que o senhor avaliou-se,já recebeu vinte;aqui tem os oitenta que faltavam.Estamos quites,e posso chamá-lo meu;meu marido,pois é este o nome de convenção”.
Nesse espaço, o homem se configura como um mero objeto, que se presta unicamente para satisfazer as vontades da mulher. A situação de subserviência que antes era imputada à mulher passou a se fazer presente no cotidiano masculino. Segundo Alencar, 1997, p.137: “A senhora comprou um marido: tem, pois o direito de exigir dele o respeito, a fidelidade, a convivência, todas as atenções e homenagens, que um homem deve a sua esposa. Até hoje...”
O dinheiro empresta a Aurélia certa superioridade e magnitude, permitindo que ela não apenas tivesse o poder de escolher o marido, mas atribuindo-lhe poderes para que estabelecesse até as regras do convívio matrimonial.
Dona de uma opinião própria e de inigualável firmeza, a personagem alencariana não se deixou influenciar pelos princípios que lhe eram impostos. Lutou por seus ideais, foi independente nas suas ações e fiel no cumprimento de suas responsabilidades. Conforme Alencar, 1997, p.103:
Sua mãe abatida pela desgraça e tolhida pela moléstia, muito fazia por todos os modos tornar-se pesada e incômoda a filha [...] o cuidado da roupa, a conta das compras diária, as contas de Emilio e outros misteres, tomavam uma parte do dia; a outra parte ia-se em trabalhos de costura.
A mulher da ficção de José de Alencar é considerada uma heroína: luta por seus ideais; tem opinião própria; ama, mas não se deixa escravizar por esse amor; e, sobretudo se coloca em posição social digna de admiração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, José de. Senhora. Rio de Janeiro: Editora ática, 1997
REIS, Carlos. O conhecimento da literatura. Coimbra: Almedina, 1996
BORGES, Valdeci Rezende. Perfis Masculinos e Femininos em “Senhora” de José de Alencar.In: http://sitemason.vanderbilt.edu/files/HPY8MM/Borges%20Valdeci%20Rezende.Pd
MACHADO, Janete Gaspar. A mulher na obra de José de Alencar. In: http://www.césarguisti. ddfnet/ufpe/ litbr2/text/Janete.pdf
NOVAES, Fernando A; org. SOUSA, Laura de Mello. História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário