quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O NARRADOR PERSONAGEM DE DOM CASMURRO

Maria Elioneide de Sousa

A obra Dom Casmurro relata a história de Bentinho e Capitu, personagens principais, que crescem juntos e desenvolvem um afeto amoroso um pelo o outro. Entretanto, a mãe de Bentinho queria que o mesmo se tornasse padre. A sorte dos mesmos se deu pela interferência de José Dias junto à mãe do menino. Casam-se e se não fosse à amizade de Sancha e Escobar, suas vidas seriam tediosas, ate que nasce um filho, Ezequiel, que a princípio lhe traz alegrias e mais tarde torna-se o motivo de suas frustrações.

Palavra chave – Casmurro, Bentinho, Capitu, Ciúmes, adultério, Dissimulação.

... A imaginação foi companheira de toda minha existência.

Dom casmurro.

Na obra Dom Casmurro de Machado de Assis, o narrador se dar pela distinção a partir do conceito de autor, que muitas vezes se confundem, onde o autor corresponde a uma entidade real e empírica e o narrador é por sua vez, entendido como autor textual, entidade fictícia, a quem no cenário de ficção, cabe a tarefa de enunciar o discurso como protagonista da comunicação narrativa.

Importa lembrar que o narrador é, de fato uma invenção do autor; responsável de um ponto de vista genérico pelo narrador. E, na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis temos o tipo de narrador-personagem que conta a história em 1ª pessoa da qual participa também como personagem. Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais.

Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer, essa proximidade faz também com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.

Em Dom Casmurro, Machado de Assis lida com um narrador perigoso que levado pela imaginação, lança mão de palavras para envenenar o leitor a cerca da verdade dos fatos por ele narrados.

Dom Casmurro é um romance de cunho moralista, narrado em 1ª pessoa, onde o personagem narrador tenta persuadir o leitor da verdade a respeitos dos fatos por ele relatados.

Desde o principio do livro, o narrador se apresenta como detentor da verdade, tentando privar o leitor de reflexões que venham a questionar o mesmo no decorrer da narrativa. Trata-se de uma das artimanhas do narrador a conduzir o leitor a enxergar e interpretar os fatos através dos olhos do próprio narrador. Segundo Marta de Sena (1998), “Verifiquemos estar lidando com narrador dissimulado que desorienta deliberadamente o leitor, conduzindo-o por pistas falsas”.

Criando um mundo ilusório, o narrador deixa-se levar pela imaginação: “a imaginação foi companheira de toda a minha existência... (Assis, 1996, cap. Xl)” este fragmento mostra a incredibilidade dos fatos por ele enfocados, onde transparece que este fantasia os fatos de acordo com a sua suposta realidade.

O narrador, ao mesmo tempo em que ordena o leitor, com o propósito de manipulá-lo e assim atingir seus objetivos, mostra um bajular do narrador em relação ao leitor. Não que isso faça com que o leitor acredite fielmente nas suas palavras, mas que aceite sem questionamento suas idéias, pode-se perceber isto nos seguintes argumentos: “não consultes dicionários Casmurro não está no sentido que eles lhes dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo” (Assis, 1996, cap. I); “Pois, senhor não consegue recompor o que foi, nem o que fui” (Assis, 1996, cap. II)”. Por outro lado leitor amigo, nota que eu queria levantar suspeitas de cima de Capitu.” (Assis, 1996, cap. XLI). Tais bajulações fazem com que o leitor aceite sem questionar as idéias postas pelo mesmo.

Quando essas estratégias não são suficiente ele lança mão de uma outra estratégia, na cabeça do leitor conceitos repetitivos, para que o mesmo não desvie sua linha de pensamento para outro prisma: “Há conceitos que devem incutir na alma do leitor à forca de repetição”. (Assis, 1996, cap. XXXI). Apesar de ser um narrador que se deixe levar pela ilusão de seus pensamentos, ele é muito astuto, após formar a consciência descontinua do seu discurso, induz o leitor a preencher as lacunas, pois como diz o mesmo, “tudo se pode meter nos livros omisso”. (Assis, 1996, cap. LIX).

É o tipo de narrador que cria dentro de uma determinada situação, interpretações falsas ou, no mínimo, imprecisas, que tenta nos levar a acreditar nelas como sendo verdadeiras, a cerca do suposto adultério de Capitu, podemos comprovar este caráter no seguinte fragmento: “Capitu olho tão fixo não apaixonadamente fixa, que não admite lhe saltarem algumas lágrimas poucas e caladas” (Assis, 1996, cap. LXXII). É neste momento que ele tem a certeza do adultério.

Após estudos feitos sobre a obra Dom Casmurro de Machado de Assis, chego a conclusão de que o narrador tenta de todas as formas persuadir o leitor à acreditar no crime do adultério de Capitu. Indícios existem, é bem verdade, mas em nenhum momento da narrativa ele mostra argumentos que nos façam acreditar na traição da mesma. Assim sendo, a obra teve e sempre terá um caráter enigmático. Cabe a cada um leitor, tirar suas próprias conclusões, já que como mostra o próprio narrador, ele é uma pessoa levado pela imaginação.


BIBLIOGRAFIA

ASSIS, Machado. Dom Casmurro, Coleção Prestígio, 33 ed, Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

SENA, Marta de. O Olhar Oblico do Bruxo: Ensaios em torno de Machado de Assis.

REGIS, Carlos Lopes, Ana Cristina M. Dicionário de Teoria Narrativa. São Paulo: Ática, 1988.

2 comentários:

Literatura Show disse...

Em Dom Casmurro,mais que a história em si,é modo de contar que interessa e chama a tenção do leitor. O romance é narrado em primeira pessoa pelo protagonista.A visão que temos dos fatos é perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral: tudo que sabemos do seu passado, de seus amores, de Capitu só o conhecemos do seu ângulo.Por conta disso paira dúvida sobre o adultério de Capitu.Assim sendo o foco narrativo,ou seja, o tipo de narador escolhido é uma das questões centrais da obra de Machado de Assis.

Unknown disse...

Parabéns pela análise do o livro!