Maria Elioneide de Sousa
A obra Dom Casmurro relata a história de Bentinho e Capitu, personagens principais, que crescem juntos e desenvolvem um afeto amoroso um pelo o outro. Entretanto, a mãe de Bentinho queria que o mesmo se tornasse padre. A sorte dos mesmos se deu pela interferência de José Dias junto à mãe do menino. Casam-se e se não fosse à amizade de Sancha e Escobar, suas vidas seriam tediosas, ate que nasce um filho, Ezequiel, que a princípio lhe traz alegrias e mais tarde torna-se o motivo de suas frustrações.
Palavra chave – Casmurro, Bentinho, Capitu, Ciúmes, adultério, Dissimulação.
... A imaginação foi companheira de toda minha existência.
Dom casmurro.
Importa lembrar que o narrador é, de fato uma invenção do autor; responsável de um ponto de vista genérico pelo narrador. E, na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis temos o tipo de narrador-personagem que conta a história em 1ª pessoa da qual participa também como personagem. Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais.
Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer, essa proximidade faz também com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.
Dom Casmurro é um romance de cunho moralista, narrado em 1ª pessoa, onde o personagem narrador tenta persuadir o leitor da verdade a respeitos dos fatos por ele relatados.
Desde o principio do livro, o narrador se apresenta como detentor da verdade, tentando privar o leitor de reflexões que venham a questionar o mesmo no decorrer da narrativa. Trata-se de uma das artimanhas do narrador a conduzir o leitor a enxergar e interpretar os fatos através dos olhos do próprio narrador. Segundo Marta de Sena (1998), “Verifiquemos estar lidando com narrador dissimulado que desorienta deliberadamente o leitor, conduzindo-o por pistas falsas”.
Criando um mundo ilusório, o narrador deixa-se levar pela imaginação: “a imaginação foi companheira de toda a minha existência... (Assis, 1996, cap. Xl)” este fragmento mostra a incredibilidade dos fatos por ele enfocados, onde transparece que este fantasia os fatos de acordo com a sua suposta realidade.
O narrador, ao mesmo tempo em que ordena o leitor, com o propósito de manipulá-lo e assim atingir seus objetivos, mostra um bajular do narrador em relação ao leitor. Não que isso faça com que o leitor acredite fielmente nas suas palavras, mas que aceite sem questionamento suas idéias, pode-se perceber isto nos seguintes argumentos: “não consultes dicionários Casmurro não está no sentido que eles lhes dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo” (Assis, 1996, cap. I); “Pois, senhor não consegue recompor o que foi, nem o que fui” (Assis, 1996, cap. II)”. Por outro lado leitor amigo, nota que eu queria levantar suspeitas de cima de Capitu.” (Assis, 1996, cap. XLI). Tais bajulações fazem com que o leitor aceite sem questionar as idéias postas pelo mesmo.
Quando essas estratégias não são suficiente ele lança mão de uma outra estratégia, na cabeça do leitor conceitos repetitivos, para que o mesmo não desvie sua linha de pensamento para outro prisma: “Há conceitos que devem incutir na alma do leitor à forca de repetição”. (Assis, 1996, cap. XXXI). Apesar de ser um narrador que se deixe levar pela ilusão de seus pensamentos, ele é muito astuto, após formar a consciência descontinua do seu discurso, induz o leitor a preencher as lacunas, pois como diz o mesmo, “tudo se pode meter nos livros omisso”. (Assis, 1996, cap. LIX).
É o tipo de narrador que cria dentro de uma determinada situação, interpretações falsas ou, no mínimo, imprecisas, que tenta nos levar a acreditar nelas como sendo verdadeiras, a cerca do suposto adultério de Capitu, podemos comprovar este caráter no seguinte fragmento: “Capitu olho tão fixo não apaixonadamente fixa, que não admite lhe saltarem algumas lágrimas poucas e caladas” (Assis, 1996, cap. LXXII). É neste momento que ele tem a certeza do adultério.
BIBLIOGRAFIA
ASSIS, Machado. Dom Casmurro, Coleção Prestígio, 33 ed, Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.
SENA, Marta de. O Olhar Oblico do Bruxo: Ensaios em torno de Machado de Assis.
REGIS, Carlos Lopes, Ana Cristina M. Dicionário de Teoria Narrativa. São Paulo: Ática, 1988.
2 comentários:
Em Dom Casmurro,mais que a história em si,é modo de contar que interessa e chama a tenção do leitor. O romance é narrado em primeira pessoa pelo protagonista.A visão que temos dos fatos é perpassada da sua ótica subjetiva e unilateral: tudo que sabemos do seu passado, de seus amores, de Capitu só o conhecemos do seu ângulo.Por conta disso paira dúvida sobre o adultério de Capitu.Assim sendo o foco narrativo,ou seja, o tipo de narador escolhido é uma das questões centrais da obra de Machado de Assis.
Parabéns pela análise do o livro!
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